Sóbrio

O telefone tocou e eu vi que era você. Passava das três da manhã e eu sabia que você tinha acabado de voltar de mais uma balada em que bebeu e pegou todas.

Era típico de você: não pensar em mim. Não me ligar. Não me amar. Mas depois que bebia você sentia minha mágica. Ligava, chorava e dizia que me amava.

Eu atendia e ouvi todas aquelas juras que você sempre me dizia bêbado mas esquecia sóbrio. Eu tentava me iludir e usava aquele pensamento 'pensa sóbrio e diz embriagado' como argumento de que no fundo você me amava em qualquer estado que estivesse. Eu me iludia achando que você ensaiava sóbrio tudo o que me dizia depois que bebia. Não era.

Quando eu atendi, eu segurei as lágrimas pra não te dizer tudo aquilo que meu tolo coração tinha guardado. Eu queria te dizer o quanto eu queria seu abraço. O quanto eu imaginava nós dois sendo apenas mais um casal que vai ao cinema  e fica feliz só de segurar na mão do outro. Queria te mostrar tudo o que eu já escrevi e que a falta de coragem me impediu de te enviar. Queria te falar em tudo que eu planejei e sonhei.

Quando eu atendi, ignorei o meu coração e segui minha cabeça. Minha voz estava mais embriagada que a sua ao dizer 'cansei' e desliguei enquanto você dizia 'eu te amo'.

Depois disso eu chorei um rio, talvez até um oceano. Você não viu. Me senti mal, entretanto uma luz bem no fundo se acendeu.

'Me procure quando estiver pronto pra dizer tudo sóbrio' foi a mensagem que te mandei antes de não te esperar mais.

Talvez você ligue, talvez não. Só quero que seja sóbrio.