Funeral

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Meu vestido preto para essas ocasiões já está curto e apertado. Foram meses esquecido no fundo no armário acumulando poeira e pegando o cheiro de naftalina para si. Eu odeio esse cheiro de naftalina, que significa que algo esteve tempo demais de lado e agora foi forçado a sair para a luz.

Minhas mãos apertam o papel que carrego. Quem vê de longe pode achar que eu tenho muito a dizer, só que agora nenhuma palavra quer sair. Estou inteiramente vazia.

A gente sempre acha que sabe o quê dizer nesses momentos, mas como eu explico que nada será como antes? Como eu explico tudo isso a minha alma? A vida é um eterno terminal de encontros e despedidas. Partidas inesperadas e saudades persistentes.

Guardei em uma caixa todas as memórias relacionadas a você. Aquelas massagens de fins de noite e o café na cama pela manhã, todas as vezes em que lavou o meu cabelo e deitou no sofá comigo no sofá para assistir os programas do fim de domingo. Guardei os beijos em terminais rodoviários, e a saudade a cada quilometro em que eu me afastava da sua cidade. Guardei as imagens e frases marcantes e guardei as desculpas que você nunca pediu. Guardei todos os momentos bons que tive ao seu lado e juro que tentei não analisar eles e descobrir que minha cabeça os fez mais colorido.

Enterro essa caixa cheia de memórias de passados, enterro você e o que eu senti um tempo atrás. Enterro as promessas não cumpridas e as palavras que ficaram no ar. Em muitas culturas, o funeral é o ritual de despedida para conseguir o último adeus e fechar um ciclo, estou fechado hoje qualquer ciclo que envolva você. Obrigado por tudo que passamos, até os momentos ruins deixaram algo para se aprender. Meu vestido preto para essas ocasiões já está curto e apertado, e eu sei que você amaria isso, mas eu não.

Dica do dia: Feche as portas do passado que não te deixam tentar o novo.