[Livro]Três amigas, todos os domingos - Edward Kelsey Moore

Todo mundo em Plainview na Indiana sabe quem são As Supremas. O trio formado por Odette, Clarice e Barbara Jean. Elas não podiam ser mais diferentes uma das outras, mas todas compartilham um nascimento singular e se complementam na vida. Odette é destemida, e não podia ser diferente, afinal nasceu em um sicômoro. Ela é casada com James, um policial e percebeu que herdou o poder da mãe de ver fantasmas. Clarice foi a primeira criança negra a nascer no hospital universitário e isso a fez ter várias matérias quando nasceu. Sua mãe, Beatrice, a ensinou tudo o que uma mulher respeitável precisa fazer: ser temente a Deus, submissa e fazer vista grossa com as escapadas do marido. Barbara Jean nasceu no sofá da mulher que viria um dia a ser sua professora, sempre foi muito bonita e após casar com Lester, se tornou rica, mas ela trocaria todo o dinheiro do mundo se pudesse ter seu filho de volta.

– Sabe, não acredito muito em milagres. Creio que existe apenas o que deve acontecer e o que não deve acontecer. Então, você deixa fluir ou se opõe, tentando impedir que aconteça.

Antes de vivarem um trio, era apenas Odette e Clarice, mas após Odette Salvar a Barbara Jean de uma noite difícil, elas se tornaram o trio inseparável de Plainview.

O autor desse livro é o Edward Kelsey Moore que é um músico e tocava na Filarmônica de Chicago e esse foi seu livro de estreia. Em Três amigas, todos os domingos, o autor explora as relações de amizade, casamento, perdas, questões raciais. A história começa a ser contada por volta de 1960, que é quando as meninas estão chegando na maioridade e a maioria dos acontecimentos giram em torno do restaurante Earl's All-You-Can-Eat que é o primeiro restaurante da cidade de propriedade de um homem negro e geralmente é onde todos vão comer. O dono é o Earl McIntyre, ele que deu o apelido de As Supremas para as três mulheres e ele que escolheu a mesa no canto para ser o point delas. A partir dai, a história vai se desenrolando e todos os domingos elas se encontram após a igreja para comer no restaurante com suas famílias.

Photo by Andra C Taylor Jr on Unsplash

A história vai sendo contando ao longo de 4 décadas e cada capítulo é da visão de uma das três. No geral, Odette é a narradora principal da história, enquanto nos capítulos de Clarice e Barbara Jean é como se fosse um ponto de vista. No começo, pode ser um pouco cansativo saber quem é a narradora da vez, mas depois que se acostuma fica bem mais fluido.

Por ser uma história se passando no auge da Era dos Direitos Civis, vemos questões como relacionamentos inter-raciais serem abordadas, o racismo, a morte do MLK, o colorismo na questão de quanto menos retinta a pele melhor dentre outros.

Quando ela foi apresentada à mãe de Lester, a velha levantou um saco de papel pardo junto ao rosto de Barbara Jean e, julgando-a um pouquinho mais clara em comparação, disse:– Bem-vinda à família.

O livro conta com personagens fortes e de muita personalidade. Cada um guarda seus segredos e se apoiam. Preciso falar também sobre os personagens menores que também conseguem expressar muita personalidade e nos faz querer saber um pouco mais sobre eles. O autor consegue criar narrativas em que as coisas acontecem na velocidade da vida, mas nem por isso, quer dizer que é uma história parada. Tem várias pequenas reviravoltas e pontos de alívio cômico.

Eu estava esperando uma história normal sobre três amigas, mas foi como se eu estivesse vivendo na mesma cidade que elas e pudesse saber dos acontecimentos como se fosse uma vizinha fofoqueira. A história é sobre amizade, mas temos várias camadas de pequenas coisas que fazem a vida ser como ela é, cheia de tragédias, risos, amores e esperança.

A visão de um casal inter-racial passeando de mãos dadas pela Avenida Plainview na noite de sábado a levou a um estado de quase histeria, cheia de preocupação com as possíveis ameaças à segurança deles, o que em grande medida havia desaparecido anos antes.

Três amigas, todos os domingos cria um ambiente reconfortante e conseguimos nos enxergar em certos pontos da história. O livro acaba de uma forma satisfatória, entretanto, deixa o gostinho de quero mais. Ele possui uma sequência chamada Três amigas, no ritmo do blues.

Eu recomendo muito essa leitura, e por ser um livro publicado lá em 2013 é mais seguro de não pegar spoiler ou algo do tipo.

E você. já conhecia esse livro?

Beijos